Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 614 de 12 de fevereiro de 2024.

A vida na selva educacional

Andreas Schleicher, diretor de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), coordenador do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), após análise do cenário mundial, elaborou o artigo “Educação – 10 tendências que estão mudando o ensino em todo o mundo”, em 2019. Decorridos quase quatro anos, o cenário não mudou radicalmente, exceto em relação às guerras, guerrilhas e terrorismo. Infelizmente, o mundo terá que conviver com a ignorância e a estupidez de seus governantes. Creio que sem exceção. Os que não estão em guerras enfrentam fantasmas “golpistas” e a própria incompetência gerencial.

Há uma pergunta inicial que pede resposta: “Como fazer com que os estudantes escutem opiniões divergentes das suas?”. Resposta simples e direta: não exercendo a militância político-ideológica nas atividades educacionais.

Quais são as novas tendências em matéria de educação e como vão afetar os sistemas educacionais de todo o mundo?

Andreas Schleicher, diretor de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e coordenador do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), explica quais são as grandes questões sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que se colocam para escolas de todo o mundo nas próximas décadas.

1. Lacuna entre ricos e pobres versus mobilidade social

A lacuna entre ricos e pobres está aumentando, e estão se ampliando os grupos com privilégios extremos, assim como aqueles que sofrem de enormes privações.

Essa desigualdade se reflete nas escolas. Nos países da OCDE, os 10% mais ricos têm uma renda dez vezes maior do que os 10% mais pobres. Esta divisão é um dos maiores desafios dos sistemas educacionais. Como investir nos estudos com os pobres em cenários sombrios?

A situação no Brasil não difere muito do cenário mundial.

E temos outra pergunta: “Como equilibrar essa desigualdade econômica com a missão da escola de oferecer um acesso mais justo a oportunidades?”.

No Brasil, a prioridade é o “Bolsa Família”, quando deveria ser o “Bolsa Escola”: bolsas de estudos na educação superior, além da melhoria radical da educação básica pública e com bolsas de manutenção. Parece simples, mas a educação não dá votos no Brasil. A educação não é prioridade das famílias, fruto da ignorância ou analfabetismo dos pais. Entre os mais pobres, as crianças trabalham para ajudar no sustento da família. A grande maioria dos pais pensa primeiro na comida. Depois o resto. Entre o “resto” está a educação…

A lacuna entre ricos e pobres está aumentando exponencialmente, num governo dominado pela pior elite deste país. A que vive sugando os cofres públicos e não reconhece a diferença entre o privado e o público.

2. Aumento do consumo na Ásia

A riqueza pode não estar distribuída equitativamente, mas está aumentando, especialmente na Ásia. A classe média global está crescendo, e 90% de seus novos integrantes estarão na China e na Índia. Às custas da exploração das riquezas de países como o Brasil e demais repúblicas sul-americanas, da América Central e da  África..

“Como a economia global mudará quando as populações mais educadas do mundo provenham da Ásia e não da América do Norte e da Europa?”. Seremos dominados por elas. Haverá mudança apenas no ator controlador: em vez de ocidental, os orientais China e Índia, com as maiores populações do planeta.

3. Crescimento da imigração

Há muito mais gente imigrando, e a Ásia assumiu o lugar da Europa como o destino mais popular dos imigrantes. Essa mobilidade traz consigo a diversidade cultural, a energia e a ambição dos recém-chegados, mas também gera muitos desafios.

“Como poderão as escolas apoiar os estudantes que chegam de diferentes partes do mundo? Quais questões isso se levanta em todo da identidade e a integração?”.

No Brasil, temos imigrantes vizinhos: bolivianos, peruanos, venezuelanos, argentinos. Não temos políticas públicas para esses imigrantes em qualquer setor da economia. Muitos estão em trabalho escravo, de volta ao século 18. Educação? Nem pensar.

4. Financiamento

A pressão para encontrar financiamento será uma grande questão para os sistemas educacionais. As escolas deverão tomar decisões a longo prazo sobre como gastar seu orçamento, sobretudo com o aumento das exigências e expectativas.

“Quem deverá pagar para que mais estudantes cursem a universidade?”. Os governos federal, estadual e municipal. Isso é possível. Temos o restrito Prouni, que pode ser ampliado, e o empréstimo estudantil. Ambos deveriam ser transformados em Bolsa Escola. A única solução para que o nosso país saia do analfabetismo funcional e entre para o primeiro mundo acadêmico.

5. Abertura vs. isolamento

A tecnologia digital pode conectar mais gente do que nunca, construindo vínculos entre países e culturas. Ou esta é a teoria, ao menos. A tecnologia também pode fazer com que o mundo seja mais volátil e incerto. É bom lembrar que os avanços da tecnologia ocorrem paralelamente nas forças armadas, em armamentos cada vez mais sofisticados.

O uso das tecnologias da informação e comunicação e da recente Inteligência Artificial (IA) ainda é um mistério para a maioria dos educadores brasileiros, formados sob a ótica de uma “pedagogia do oprimido”. Para oprimir. Uma pedagogia em que a militância “deita e rola” e o estudante é apenas massa de manobra de uma ideologia rasteira e derrotada no mundo.

Entender como integrar a internet e outras tecnologias é um desafio para as escolas. Esse é um desafio mundial, como vemos na Suécia e na Holanda, por exemplo.

Poder escutar uma variedade de vozes fomenta a democracia, mas também concentra um poder sem precedentes na mão de um pequeno número de pessoas. É o caso da IA. Varre literalmente a internet e procura elaborar um texto que tenha apenas uma posição.

O estudo revela que “Quando as notícias e informações são personalizadas para nós por algoritmos, isso faz com que a gente só tenha acesso a opiniões de pessoas que pensam de forma parecida e se afaste de quem pensa o oposto”. E lá vem outra pergunta: “Como as escolas e universidades farão para promover uma maior abertura a ideias diferentes?”. Os educadores deverão ter uma formação mais abrangente, democrática. Adeus à “pedagogia do oprimido” e de seu oprimido plagiador. Isso poderá acontecer. Esperamos que sim.

6. Humanos de primeira classe ou robôs de segunda?

Já foram feitos vários alertas sobre a ameaça da inteligência artificial para os empregos de hoje em dia. Mas os sistemas educacionais precisam equipar os jovens com ferramentas para que possam se adaptar e modernizar em um mercado de trabalho em mutação.

Os cursos de graduação possuem unidades curriculares (UC) em que os avanços da tecnologia e as mudanças no perfil dos profissionais podem ser atualizadas. Há que ter agilidade e não estar preso na caixinha.

7. Lições ao longo da vida

A expectativa de vida está aumentando, e um mercado de trabalho menos previsível faz com que cada vez mais adultos tenham que voltar a se capacitar profissionalmente.

Será necessário dar mais atenção ao aprendizado a longo prazo, para que os adultos estejam preparados para mudar de trabalho ou ocupação. Por outro lado, as IES podem ofertar cursos e programas extensionistas para os idosos, dando-lhes a oportunidade de se atualizarem.

8. Conectados ou desconectados?

A internet faz parte da vida das pessoas, com ênfase para adolescentes e jovens. Nos países com maior potencial tecnológico, a quantidade de tempo que os jovens de quinze anos passam conectados duplicou em três anos. Muitos adolescentes dizem sentir-se mal se ficam desconectados. Os mobiles são um dos membros acessórios ao corpo físico…

Cabe às IES manterem estudos permanentes de como reduzirem os efeitos negativos, como o cyberbullying, a perda de privacidade, além de terem recursos tecnológicos para identificar os plágios extraídos da IA ou da internet como um todo.

9. Ensino de valores

Todo mundo espera que a escola ensine valores. Valores que incluam a ética cristã de “não fazer aos outros o que não gostaria que lhe fizessem”. Simples assim. Ensino bíblico e que Jesus Cristo resumiu numa pequena palavra: AMOR.

Essa afirmação deve ser estranha aos adeptos da “pedagogia do oprimido”. Para eles, Jesus foi apenas um profeta  ou mestre.

10. Temas irrelevantes para muitos

O estudo afirma que “a ONU diz que há cerca de 260 milhões de crianças que perdem a chance frequentar a escola. Para elas, estes temas serão irrelevantes, porque nem sequer têm acesso a uma escola ou estão escolas com um nível educacional tão baixo que saem dela sem ter os conhecimentos mais básicos de escrita e matemática”.

Uma afirmação de quem perdeu a guerra para a mediocridade, para o analfabetismo. Um país que entenda irrelevantes os nove itens anteriores, pode declarar falência e se deixar colonizar por uma potência mundial.