Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 623 de 29 de abril de 2024.

Educação superior: reflexos da pandemia

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com base na segunda etapa do Censo Escolar 2020 (Situação do Aluno), trouxe a público informações relativas ao movimento e ao rendimento dos estudantes, ao término do ano letivo durante a pandemia do vírus chinês. O documento − Resposta educacional à pandemia de COVID-19 no Brasil − revela que, das 168.758 escolas existentes, 94,0% responderam ao Censo, sendo 134.606 (97,2%) públicas e 34.133 (83,24%) mantidas pela livre iniciativa.

Os resultados revelados pelo Inep são fundamentais para uma análise e reflexão sobre as consequências desse fenômeno na educação superior a curto e longo prazos. As instituições de ensino superior (IES) estão recebendo parte desses estudantes, carentes de uma formação regular − nem me refiro à qualidade do ensino ministrado −, em particular, em língua portuguesa e ciências.

A Agência Brasil divulgou que, uma das pesquisas, realizada pela Fundação Lemann, o Itaú Social e Imaginable Futures, mostra que, “três meses depois do início da suspensão das aulas presenciais, havia cerca de 4,8 milhões de estudantes, o equivalente a 18% do total de alunos do ensino fundamental e do ensino médio da rede pública, que não teriam recebido nenhum tipo de atividade, nem por meios eletrônicos, nem impressos”.

Relata que a pandemia do novo coronavírus teve grande impacto na educação brasileira em 2020. A suspensão das aulas presenciais nas escolas públicas e particulares evidenciou uma série de desigualdades, deixando, inclusive, estudantes sem atendimento. A publicação Retratos da Educação no Contexto da Pandemia do Coronavírus – Um olhar sobre múltiplas desigualdades reúne cinco estudos, realizados entre maio e julho de 2020, que se propuseram a “coletar dados e depoimentos sobre o ensino no país”.

Uma das edições doCadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais: contribuições ao novo Plano Nacional de Educação II (v. 9, 2023) e outro documento − Percepções sobre o ensino remoto-domiciliar durante o isolamento físico: o que as mães têm a nos relatar? – é peça  indispensável para uma análise, com maior profundidade, do impacto sobre a aprendizagem e a saúde mental dos envolvidos no processo educacional: discentes, docentes, gestores educacionais e familiares.

Existem caminhos possíveis de recuperação das deficiências desses alunos, apuradas no processo seletivo ou vestibular e nas primeiras semanas de aula, mediante a análise do histórico escolar do ensino médio e de provas aplicadas sobre os conhecimentos trazidos desse nível de ensino. A maioria das IES da livre iniciativa adota estratégias diversificadas, tendo em vista a possibilidade de evasão ainda no primeiro período letivo. A recuperação de estudos tem sido uma delas. Todavia, nem sempre a aprendizagem é verificada ao final desse processo.

Diversas metodologias ativas de aprendizagem têm surtido efeitos surpreendentes, conduzindo os discentes para pesquisas sugeridas pelos docentes, com o uso dos estudos semipresenciais ou híbridos, nos termos das normas administrativas obrigatórias autorizadas pelo Ministério da Educação.

O presidente do Inep, à época, Danilo Dupas, afirmou que “a pesquisa permite compreender as estratégias adotadas pelas escolas para continuar ensinando e avaliando os estudantes da educação básica. Os resultados, de caráter censitário, podem auxiliar o Ministério de Educação (MEC) e os secretários estaduais e municipais de ensino na tomada assertiva de decisões”.

Os dados aferidos serão fundamentais para a compreensão das consequências da pandemia no sistema educacional brasileiro. 

Certamente, a pandemia trouxe desafios sem precedentes para a educação em todo o mundo, e no Brasil não foi diferente. Esses impactos refletem a complexidade dos desafios enfrentados pelo sistema educacional brasileiro durante a pandemia. A crise sanitária forçou uma rápida adaptação e trouxe à tona a necessidade de políticas públicas mais eficazes para garantir a equidade e a qualidade da educação para todos.

A transição do ensino presencial para o remoto ou a distância teve que ser realizada com o processo educacional em movimento. Foi crucial e, em muitos casos, impossível para as escolas públicas, sujeitas a diversos sistemas educacionais, sem qualquer coordenação executiva central, não previstas na Constituição e nem na LDB. As escolas mantidas pela livre iniciativa, por outro lado, foram mais ágeis e conseguiram superar obstáculos imprevisíveis. A pandemia foi inédita, sem qualquer precedente na história humana, de um vírus estudado em laboratório da China.

Há que se fazer, agora, um estudo sobre os reflexos do ensino durante a pandemia, realizados pelas escolas de educação básica no processo da educação superior brasileira, com ênfase para o problema da dispersão dos sistemas educacionais brasileiros, em particular, os ofertados pelos entes federativos (27) e os 5.570 municípios, dos quais Minas Gerais conta com 853, enquanto Roraima tem apenas 15. Por outro lado, Serra da Saudade, de Minas, tem somente 833 moradores e a capital paulista 11.451.999 (IBGE).

O Congresso Nacional, que representa cidadãos e entes federados, há que se ocupar desse complexo sistema educacional brasileiro. Talvez a Comissão de Educação da Câmara, sob a presidência do lúcido e corajoso Nikolas Ferreira, possa tomar essa iniciativa.