Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 602, 09 de outubro de 2023.

Educação superior:  novos modelos de IES e de cursos

Sanjay Sarma, vice-presidente de aprendizagem aberta do MIT; David Kaiser, S.P. Kothari e Diana Henderson, professores do Massachusetts Institute of Technology – MIT, com mais de vinte anos de pesquisa e liderança em aprendizagem científica e inovação em educação digital, no “white paper” IDEAS FOR DESIGNING An Affordable New Educational Institution (Ideias para criar uma instituição educacional acessível), de 32 páginas, propõem um novo modelo de instituição de ensino superior (IES) que ofereça alta qualidade, educação acessível, focada na preparação para o trabalho, fornecida por meio de microcredenciais modulares ao longo da graduação. Trata-se de um projeto do Laboratório Abdul Latif Jameel Education, do MIT. Um ponto de conexão do MIT para inovadores educacionais em todo o planeta.

O “white paper”, conduzido por professores universitários norte-americanos, procura imaginar uma nova IES que “ofereça educação de nível de bacharelado acessível e de alta qualidade em áreas como ciência da computação e negócios e, eventualmente, em engenharia”. O texto, desde o início, pretende pensar o que poderia ser realizado numa instituição tradicional. Os professores do MIT não pretendem repensar o ensino superior.

A pesquisa e o ensino proporcionalmente, sendo que o ensino deve ser o foco de 80% das unidades curriculares do curso de graduação e dos cursos superiores de tecnologia. Quando for o caso, aproveitamento de cursos ou unidades curriculares ofertados por outras IES.

Repensaram o diploma, tendo antes da conclusão do curso uma série de concentrações modulares, com microcertificações. Afirmam os professores do MIT que “o ensino deve ser redefinido para ser o especialista em mentoria”, conduzido por profissional com experiência e competência na área. E “um foco pedagógico na perseverança e na resiliência”.

Ao final, concluem por apresentarem algumas ideias para um curso de graduação, em síntese: as realidades atuais da academia e possível alavancagem; pontos baseados em uma forma mais singular, criativa, inovadora; mudanças estruturais, juntamente com as potenciais inovações; proposta de valor radicalmente diferente para os alunos em termos de eficácia, resultados e acessibilidade.

O Instituto Semesp, em parceria com a Workalove, publicou, recentemente, uma pesquisa sobre “O modelo ideal de instituição de ensino superior na visão dos alunos”, da série “O que os alunos realmente pensam sobre o ensino superior?”. A Workalove é uma plataforma de orientação e desenvolvimento de carreiras.

Temos, assim, a visão de professores de um instituto de prestígio internacional e de estudantes brasileiros. Uma gama de informações que pode ser útil aos gestores educacionais, ao conduzirem a elaboração do Projeto Pedagógico Institucional (PPI), do Plano de desenvolvimento Institucional (PDI) e do Projeto Pedagógico de Curso (PPC), documentos institucionais obrigatórios segundo as normas de regulação editadas pelo Ministério da Educação. Não se pode desprezar os instrumentos de avaliação in loco para credenciamento e recredenciamento institucional e de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de graduação.

A amostra da pesquisa contou com 1.692 respondentes, a maioria de 18 a 24 anos. Os dados da pesquisa estão alinhados aos resultados do relatório Ideas for Designing An Affordable New Education Institution, acima referenciado. A pesquisa aponta para algumas sugestões criativas pelos alunos respondentes, entre elas: microcertificações e currículos flexíveis, independente da modalidade de ensino, 67,4% dos entrevistados responderam que a faculdade ideal possibilita uma formação por microcertificações.

Essa preferência por certificações parciais também reflete a busca de educação mais flexível, adaptável e direcionada às habilidades específicas e necessárias para o mercado de trabalho. Para a maioria dos estudantes (43,7%) o currículo ideal deve ser flexível com trilhas de aprendizagem de acordo com o objetivo de carreira profissional. Essa certificação pode ser realizada a partir das habilidades desenvolvidas em um determinado número de unidades curriculares.

O Instituto Semesp registra que “os estudantes estão mais interessados em construir seu próprio caminho de aprendizado, selecionando e acumulando microcertificações de acordo com seus objetivos de carreira e interesses pessoais”. Com base nessa pesquisa, que “essa tendência pode influenciar as instituições de ensino a adotarem modelos de educação mais flexíveis e modulares para atender às expectativas dos estudantes e às demandas do mercado de trabalho em constante evolução”.

Algumas das ideias dos professores do MIT e da pesquisa com estudantes brasileiros são perfeitamente possíveis e desejáveis. Uma educação superior de qualidade, criativa, inovadora e inspiradora para os discentes aparece tanto nas pesquisas com os docentes norteamericanos, quanto com os estudantes das IES no Brasil.

Eu acrescentaria a redução de anos de integração curricular de cursos de graduação, como os da área da saúde, exceto Medicina. A Resolução CNE/CES nº 4, de 6 de abril de 2009, dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação em Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional, bacharelados. Tem fundamento, entre outros, no Parecer CNE/CES nº 8/2007, aprovado em 31 de janeiro de 2007, homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 13 de junho 2007. Esse parecer da Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho Nacional de Educação (CNE), dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos a várias possibilidades de integralização e duração dos cursos de graduação. Devo lembrar que a duração mínima disciplinada na Resolução CNE/CES 4/2009 tem por base uma carga horária-dia de 4h, e cinco dias na semana. Esse parecer permite outras possibilidades, quando, por exemplo a carga diária for de 5h e 6 dias na semana. Mas existem outras opções.

Creio que as diretrizes curriculares nacionais (DCNs) e nem as normas de regulação e avaliação impedem inovações que podem estar disciplinadas no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de graduação, tanto bacharelados, licenciaturas e cursos superiores de tecnologia (CST). Nos instrumentos de credenciamento e recredenciamento institucional e de reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de graduação, a criatividade e inovação pode conduzir ao conceito 5, numa escala de 1 a 5, desenvolvida pelo Inep.

É mais um tema para os que se dedicam ao diálogo sobre criatividade, inovação e qualidade na educação superior.