Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 597, de 04 de setembro de 2023

TDICs & educação superior: vantagens e desvantagens

O Projeto de Lei (PL) nº 104/2015 em análise na Câmara dos Deputados, dispõe que somente serão admitidos, nas salas de aula de instituições de educação superior (IES), “aparelhos eletrônicos portáteis, desde que inseridos no desenvolvimento de atividades didático pedagógicas e devidamente autorizados pelos docentes ou corpo gestor”.

Na discussão do Projeto na Comissão de Educação, em 2009, concluiu-se que, “para preservar a essência do ambiente pedagógico, cabe a extensão da proibição de uso em sala de aula a todos os equipamentos eletrônicos portáteis que desviam a atenção do aluno do trabalho didático desenvolvido pelo professor.” Além disso, argumentou-se que o uso desses “equipamentos em sala de aula é ainda mais frequente entre os alunos das instituições de ensino superior que na educação básica, motivo pelo qual se acordou pela ampliação da abrangência da proposta àquele nível de ensino”.

Todavia, um projeto de lei que está há catorze anos em tramitação na Câmara dos Deputados não deve ser aceito pela maioria ou pelo presidente da Casa, Arthur Lira. Não creio que será aprovado.

Segundo alguns educadores, o celular em sala de aula oferece vantagens que podem aprimorar o modelo de ensino tradicional e torná-lo mais adequado à transformação digital pela qual as IES estão passando. A mobilidade, a interatividade e a inovação estão entre as possíveis vantagens do celular em sala de aula.

Entre as desvantagens estão menos concentração e dependência do educando desses instrumentos. Outro problema: possivelmente, nem todos os estudantes possuem celulares com recursos avançados, em particular, para baixar recursos mais densos, como vídeos, por exemplo.

Outro ponto negativo surge na Suécia, a ministra da Educação, Lotta Edholm, conhecida por sua abordagem pioneira em tecnologia e educação, decidiu reverter sua estratégia de implementação de educação 100% digital nas escolas e está investindo 45 milhões de euros (aproximadamente R$ 242 milhões) na distribuição de livros didáticos impressos ao longo de 2023. A decisão, que vai contra a tendência mundial de digitalização na educação, foi anunciada em dezembro de 2022.

A ministra Edholm destacou, em um artigo publicado no jornal “Expressen”, que houve uma postura acrítica em relação à tecnologia, negligenciando o conteúdo em favor da forma. Ela ressaltou que, apesar das vantagens dos recursos didáticos digitais, os livros físicos oferecem benefícios que as telas não podem substituir.

No Brasil, a educadora Débora Garofalo, a primeira mulher brasileira e primeira sul-americana a ser finalista no Global Teacher Prize, considerado o Nobel da educação, não está preocupada com as TDICs. Mas afirma que “a escola está passando por um processo de se reinventar. A gente já sabe que não cabe mais a educação tradicional, é necessário trazer elementos que foram benéficos nesse processo de pandemia, tem que intensificar isso, principalmente nesse retorno presencial. Não estamos falando apenas de buscar novas formas de ensino e aprendizagem, mas também trazer algo que seja significativo para esses estudantes”.

Ela aborda uma questão que, necessariamente, não prescinde das TDICs, mas que é negligenciada por grande parte das IES: a educação presencial. Esta pode ter momentos a distância, mas não pode deixar de ter boa parte presencial. O ensino semipresencial ou híbrido pode destinar 40% da carga horária de um curso de graduação a distância, mas terá 60% presenciais. Essa reinvenção está autorizada há décadas, mas pouco usadas por boa parte das IES da livre iniciativa e públicas.

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco, em recente relatório sobre “Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação”, pede que a reforma dos currículos e dos métodos de ensino levem em consideração três grandes mudanças relacionadas à globalização, à mudança climática e à revolução digital, as TDICs: “a educação baseada em direitos humanos e respeito à diversidade cultural; a integração da educação ambiental presente em todos os programas escolares; o ensino de ferramentas digitais remotas para incutir tanto o domínio técnico como o senso crítico necessários ao seu uso adequado”.

Por outro lado, o uso da IA, ChatGPT, robótica e outros recursos das TDICs nos processos de educação superior, especialmente, nas metodologias ativas de aprendizagem, não podem ser simplesmente ignorados. Na reinvenção das IES esses recursos tecnológicos devem ser avaliados e aplicados levando em conta o perfil institucional e dos educandos. Destes, essencialmente.