Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 590, 17 de julho de 2023

O espinho da insatisfação

Meu tempo tem sido tomado, em boa parte, por análise de textos avulsos, artigos e livros sobre o futuro da educação superior, o uso adequado dos recursos das tecnologias de informação e comunicação no processo ensino-aprendizagem e outros temas relevantes. Conversas com quem pensa EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, o educando com foco na aprendizagem, na produtividade acadêmica. A qualidade no processo educacional deve estar ligada ao completo êxito na aprendizagem do egresso, de seu desempenho no mercado de trabalho, nos empreendimentos. O espinho da insatisfação com a monotonia, a repetição sistemática de conteúdos, o método tradicional de ensinar e aprender e os percalços de uma futurologia sem base científica.

Ao contrário do que diversos autores sinalizam, não tenho medo do futuro. Na Belas Artes, temos o propósito de realizar o melhor desempenho possível em nossas atividades de gestão, no desempenho docente, dos técnicos e auxiliares. Tudo em favor da aprendizagem discente. Sem medo de errar. A criatividade e a inovação exigem audácia, persistência, perspicácia, estratégia e ações que, nem sempre, resultam em êxito. Navegar é preciso; viver, educar não é preciso. Temos, às vezes, que navegar em águas sombrias, como nos tempos da pandemia e no pós-pandemia.

Clayton Christensen, em “O dilema da inovação” (São Paulo: M. Books do Brasil, 2012), alerta que “o ritmo do progresso que os mercados demandam ou podem absorver, pode ser diferente do progresso oferecido pela tecnologia”. A falta de sintonia entre mercado e tecnologia ocorre, em muitos casos, no processo educacional. Há que analisarmos todas essas questões para que a educação ocorra em sintonia com o mercado e a tecnologia. Essa construção é complexa, difícil, mas possível.

Os questionamentos sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) no processo ensino-aprendizagem tomam grande parte de nossas “pré-ocupações”. Tendo a economia criativa como base para os projetos institucionais, de programas e de cursos de graduação e pós-graduação lato e stricto sensu, as estratégias, ações e metas sofrem as influências destes tempos de incertezas e de tomada de decisões com o trem (processo) em permanente movimento.

O #timebelasartes, tendo presente essas questões, atua sempre buscando o melhor para o educando. E nesse processo de contínuo aprender a aprender, temos conseguido superar obstáculos, desenvolvendo ações sempre tendo o educando presente, aprendendo a conviver e acolher. Os relacionamentos humanos exigem respeito e crença nos atores envolvidos.

Pierre Weil, diz que as relações humanas, quando realmente bem-sucedidas, “assumem um caráter transcendental e transpessoal” e que “acima dos papéis sociais aprendidos, acima dos condicionamentos que moldaram o nosso comportamento, existe um encontro das essências dos seres” (Weil, Pierre / Relações Humanas na família e no trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013).

O encontro da essência de educadores, educandos e gestores acadêmicos é a busca do #timebelasartes. O eterno ensinar e aprender somente alcança seu objetivo maior quando conseguimos a sintonia entre os atores do processo universitário. É a nossa busca. É a busca dos educadores que têm a qualidade em seu DNA e que trabalham numa instituição − BELAS ARTES − que tem o mesmo DNA.

Em nossas reflexões, à procura do melhor e do possível para uma EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, que podem conduzir a ações congruentes, harmônicas, sempre haverá em nosso caminho dúvidas, erros e acertos. Faz parte do exercício de uma liderança que potencializa os talentos humanos em seu entorno, no caso, educandos e educadores, com foco no positivo, mesmo em momentos adversos, incertos ou sombrios.

A pandemia e o pós-pandemia fazem parte de um passado que deixou ensinos e questões em aberto, objeto de constantes estudos. As crises, segundo os gurus da administração, podem levar a possibilidades novas, não pensadas no passado. Creio que as questões levantadas sobre o ensino presencial versus virtual, ou o semipresencial ou híbrido, misto, por exemplo, ainda permanecem na “pré-ocupação” de gestores das instituições de educação superior da livre iniciativa. Não há unanimidade. E, como dizia o filósofo Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra” e “quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Muitas questões relacionadas a uma EDUCAÇÃO DE QUALIDADE continuarão em aberto. O que é saudável. Mas não podemos nos acomodar. O “espinho da insatisfação” está em nós. E não fere. Desperta, estimula.

Um filósofo que não consigo identificar ao sabor da escrita, disse, certa vez, que “a roseira espinhosa produz essências raras”. O espinho da insatisfação permeia a busca da essência dos saberes, raras, que, certamente, são o cerne de uma EDUCAÇÃO DE QUALIDADE. É a nossa eterna busca: desenvolver as essências raras, inatas em educandos e educadores.