Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 589, 10 de julho de 2023

IA: uso versus abuso

A Inteligência Artificial − IA (ou Artificial Intelligence IA) veio para ficar. E evoluir. E transformar. Essa evolução nas tecnologias digitais de informação e comunicação está trazendo avanços e inquietações na educação e na sociedade. Como toda mudança. Mas essa é mais radical e profunda.

A IA pode ser definida como “a ciência e a engenharia de produzir máquinas inteligentes”, como John McCarthy (1927/2011) sugere na sua conhecida conferência, “O Eros Eletrônico”. Ele foi um cientista da computação, com os primeiros estudos no campo da Artificial Intelligence.

Na educação, em todos os níveis e graus, pode ser um instrumento de melhoria dos processos e metodologias de ensino e aprendizagem. Valioso. Por outro lado, pode ser um instrumento simplista, na ilusão de cortar custos, com a dispensa em massa de profissionais da educação. Uma lástima.

Usar a IA na melhoria contínua da qualidade ensino-aprendizagem, na capacitação docente e dos demais trabalhadores na educação é uma opção valiosa. Ter competência e habilidades para o uso da IA é indispensável para esses profissionais, em especial, os gestores.

Os projetos pedagógicos institucionais e de cursos superiores, por exemplo, devem sinalizar o uso da IA com os cuidados que a educação de jovens e adultos merece. Afinal, essas gerações é que irão viver e educar para um futuro não distante. O futuro é AGORA.

A IC multiplica a capacidade racional do ser humano para a solução de problemas, simulando situações práticas. Essas “máquinas inteligentes”, contudo, são “instruídas”, programadas por outros seres humanos. AQUI ESTÁ O COMPLEXO, O INSONDÁVEL. Ensinar computadores a pensar não é simples. E mais, quem educa os robôs?

O uso dessas “máquinas” para a aprendizagem, como para os demais caminhos socioeconômicos, está nas mãos, na inteligência, na formação dos profissionais que as constroem. Um ambiente fértil para as “milícias digitais”. Assim como temos as “milícias presenciais”, que desvirtuam o processo ensino-aprendizagem, há uma real possibilidade de robôs milicianos, com o uso indevido de ideologias nesse mesmo processo.

Creio que o uso da IA na educação é necessário, inevitável. Todavia, gestores e professores devem avaliar previa e criteriosamente o programa a ser usado. Este necessita congruência com os projetos pedagógicos institucionais e de cursos. A análise de bons modelos de dados para classificar, processar e analisar e os recursos tecnológicos disponíveis ou necessários nos investimentos iniciais.

Penso que a IA enquadra-se na 4ª Revolução Industrial (4.0), assim como na Educação 4.0 que já apresenta avanços para 5.0, na terminologia dos especialistas da área. A IA faz parte dessa onda de inovação. Mudanças nos costumes, hábitos, na maneira como pessoas e organizações privadas e públicas se relacionam com tecnologia, compartilham dados e tomam decisões.

Nessa fase da perplexidade e de questionamentos sobre o uso da IA, lembro-me de uma resposta do cientista Stephen Hawking (1942/2018), quando participou do AMA − Ask Me Anything (Pergunte-me qualquer coisa), evento no qual personalidades do campo das artes, política e ciência respondem a perguntas de usuários da rede REDDIT. Em resposta a uma das perguntas sobre IA, disse: “Uma inteligência artificial super inteligente será muito boa em alcançar seus objetivos, e se estes não estiverem alinhados com os nossos, teremos problemas. Você provavelmente não é o tipo de pessoa que odeia formigas e que pisa nelas por maldade, mas se você for responsável por uma hidroelétrica e tiver um formigueiro na região que será inundada, problema das formigas. Não vamos colocar a humanidade na posição dessas formigas. É importante pensar não só na criação da inteligência artificial, mas como fazer um uso benéfico dela”.

O uso benéfico da IA é um dos desafios postos para os gestores das instituições de educação superior (IES) da livre iniciativa. Essas congregam mais de sete milhões dos estudantes brasileiros, merecedores de uma educação de qualidade, com foco no atendimento ao educando, considerada a bagagem sociocultural e psicológica. O uso da IA não pode cair no abuso.