Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 588, 03 de julho de 2023

Educação, trabalho & vida: meio digital, presencial ou híbrido

“A função da educação é ensinar a pensar intensamente e pensar criticamente. Inteligência mais caráter: esse é o objetivo da verdadeira educação”. (Martin Luther King Jr.)

A formação profissional escolar e acadêmica é um dos caminhos para o exercício da cidadania e de profissões, como determina a Constituição, no art. 205: a educação, em todos os níveis, visa “ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Vida, cidadania e trabalho. Família e escola juntas – o ideal. Navegar – estudar, trabalhar − é preciso, necessário; viver não é preciso, é incerto.

A formação para o exercício da cidadania e de profissões pode acontecer na família ou à margem da educação formal. Esta, contudo, oferece a aprendizagem de conhecimento e de habilidades, na teoria e na prática, de forma metódica, ampla, completa. A formação para a vida é o resultado desse binômio – cidadania e profissões – e de fatores ofertados pela família, os relacionamentos, a sociedade. Cada ser, geralmente, se adapta, com maior ou menor dificuldade às transformações que ocorrem ao longo de sua jornada. Mas a meta subjacente é construir o seu próprio caminho.

Miguel de Unamuno (1864/1936), político, ensaísta, romancista, dramaturgo, poeta e filósofo espanhol, em “Do sentimento trágico da vida” (Porto: Educação Nacional, 1953, p. 38), diz que “O conhecimento está ao serviço da necessidade de viver, e, primariamente, ao serviço de conservação do instinto pessoal. E essa necessidade e esse instinto criaram, no homem, os órgãos do conhecimento, dando-lhes o alcance que possuem. O homem vê, ouve, apalpa, saboreia e cheira aquilo que precisa de ver, ouvir, apalpar, saborear ou cheirar, para conservar a sua vida”.

Numa sociedade da informação e do conhecimento, neste século 21, o ser humano tem acesso total à informação e ao conhecimento, em meios digital ou impresso. A internet, as redes sociais proporcionam as interações que conduzem ao ensinar e aprender, em todas as áreas profissionais e do conhecimento. A escola, a universidade devem captar e incorporar às metodologias de aprendizagem essas mídias que não podem ser paralelas, mas integradas, parceiras inseparáveis.

A demanda à educação superior, de acesso restrito à capacidade financeira do ingressante, aos bolsistas do Prouni e aos tomadores de empréstimos pelo Fies, no meio presencial vem declinando, mas cabe às instituições de educação superior (IES) construírem condições para o êxito em ambos os meios, que podem ser conexos, afins.

O Relatório Grant Thornton − disponível em The State of Higher Education, em 2019 −, identificou um conjunto de fatores que está conduzindo às mudanças na forma da educação que conhecíamos no século 20. Mudanças demográficas, aumento de custos, maior concorrência e mudança na demanda dos consumidores, inevitavelmente, “forçará o desaparecimento dos campi tradicionais, juntamente com a ascensão de um novo modelo de negócios: universidades nacionais que dão acesso aos alunos em todo o país, combinando o aprendizado on-line com vários locais físicos limitados, onde as interações face a face com o corpo docente e outros alunos ocorrerão. Essa realidade já está acontecendo no Brasil, com as características próprias do perfil das IES da livre iniciativa. Esse fenômeno, porém, é comum às instituições particulares e públicas.

Parece, nesse cenário, que as IES tradicionais, mas conservadoras, imutáveis tendem a desaparecer ou mudar radicalmente o modus vivendi, o modo ou o meio de viver.

A educação para a vida não está nas diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação (DCNs). Por outro lado, a excessiva duração dos bacharelados tem sido um limite à demanda. Milhões de jovens estão preferindo, primeiro, assegurar a sua sobrevivência e manutenção, via trabalho ou formação técnica em nível médio. A graduação passa, por esse processo, momentos de incerteza, quando o “fim das faculdades”, a ausência de estudantes nos campus assustam aos que não vivem o dia a dia de uma IES com os olhos e a mente abertos. Vejo como um processo de transição. Os que tiverem condições para adaptação aos novos tempos que a geração digital está abrindo, ou de se adiantarem em suas ações, antenadas com a visão de futuro, própria de educadores-gestores, tomam essa crise de demanda como um desafio a ser superado. Trata-se da construção, em bases sólidas, da perpetuidade da IES, na formação integral do ser humano em espaços de aprendizagem presenciais, a distância, ou híbridos, mistos.

Vejo, assim, que o problema não está nas mídias de ensino-aprendizagem: a distância, presencial ou híbrida. Tanto faz. A diferença, todavia, está na metodologia adequada e no professor, o condutor, o orientador, o mestre no êxito desse processo.

A banalização ocorreu durante a pandemia recente no corte irresponsável de custos, na ausência de investimentos congruentes com as tecnologias de informação e comunicação indispensáveis à educação presencial, a distância ou híbrida, além das improvisações. Assim como os bancos tiveram que se adaptar a esses novos tempos, criando as chamadas “agências premium”, as IES devem desenvolver o ensino − presencial, a distância ou híbrido – em “espaços premium de aprendizagem”, ou seja, com excelência, onde a produtividade serve de “indicador de qualidade premium”.

O #timebelasartes vem trabalhando no desenvolvimento seguro da Belas Artes, em vias de se tornar uma IES centenária. As crises reveladas pelo cenário atual são um estímulo à absorção dos princípios da Economia Criativa em nosso planejamento estratégico e gestão acadêmico-administrativa. A formação integral do educando é o propósito que guia as nossas ações e metas educacionais e gerenciais. Uma equipe altamente profissional e dedicada em tempo integral ao melhor, à qualidade educacional. “O futuro é criativo” não é apenas um slogan. É um modo de ser, de sentir, de agir, incorporado aos nossos gestores acadêmicos e aos educadores que constituem o nosso corpo docente, sentimento transmitido aos educandos na sua formação para a vida plena, com enfoque nas profissões objeto de nossos cursos de graduação e pós-graduação. Na Belas Artes o raciocínio e a criatividade são valorizados, um diferencial competitivo relevante.