Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 574, 27 de março de 2023

Educação para a vida

A vida educa é uma frase que ouço de vez em quando. Mas ouço, por outro lado, que a educação para a vida deve ser o propósito da escola, especialmente da educação básica, desde a educação infantil, o primeiro contato da criança com a educação formal, fora do lar. Mas a escola educa para a vida? Poucas, constata-se.

Mas o que é “educar para a vida”?

O processo educacional, em qualquer nível é, por si mesmo, complexo.

A “pedagogia do oprimido”, adotada em boa parte das escolas públicas, é dedicada “aos esfarrapados do mundo”, projetadas pelo autor em seu autoexílio, um coitado “oprimido”. De professor oprimido para aluno oprimido. Isso não é educação para a vida. É pura militância ideológica, à esquerda, desencadeada por um ser amargurado, copiando e adulterando método do missionário protestante norte-americano Frank Charles Laubach, com ênfase para a luta de classes.

Não se educa para a luta, mas para uma vida em liberdade, exceto nas ditaduras comunistas e outros sanguinários sem ideologia.

Os cenários diversificados deste mundo, nas primeiras décadas do século 21, parecem indicar que o nosso planeta, à medida que evolui nas tecnologias digitais, involuem na convivência fraterna, pacífica. Guerras e dissenções permeiam as grandes nações como a China, os EUA, a Rússia, assim como a Europa, o Oriente Médio, a África e as Américas. Não se trata mais da velha luta entre capitalismo e comunismo. Há uma ênfase indiscriminada pela luta ao poder e, pior, ao poder absoluto, cruel, raivoso e, em alguns casos, vingativo, através do discurso de ódio para os divergentes. Estes não são mais adversários. São inimigos e, como tal, devem ser eliminados.

A educação pública, em qualquer nível, nesse contexto, não tem como desenvolver as potencialidades do ser humano, em qualquer período de sua vida. Professor não educa, ensina. O estudante apenas ouve passivamente, como um escravo que abaixava a cabeça quando recebia ordens do senhor de engenho ou daquele que nele investiu alta quantia financeira. A escravidão continua, só que em outro patamar e ambiente, da senzala para a escola.

Penso que uma jornada de conhecimento contínuo, onde o educando aprende, aprende a aprender, a ser, experimenta e empreende, é fruto de metodologia ativa, na qual o aluno é o centro do processo didático-pedagógico. Não é escravo do professor. É parceiro. Educador e educando aprendem, ao tempo em que competências e habilidades são desenvolvidas em todas as fases desse intrincado processo que é o educacional. O “professoral” não educa. Oprime. Não educa para a vida.

O célebre educador português, José Pacheco, que agora vive em Brasília, é preciso na mostra do professor enciclopédia: “O professor não transmite o que diz, mas aquilo que é”. E Rubem Alves, um educador como poucos, dizia que “há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo”. Não entendem a vida e nem sabem viver.

Mas onde existem essas escolas que educam para a vida?  Elas existem, mas são poucas. A maioria “ensina” as ciências e o exercício de uma profissão, este, em níveis mais avançados, como o ensino médio e o superior, em particular a graduação. Matemática, Física, Química, Biologia, Geografia, História são ensinadas metodicamente, mas poucas escolas as colocam com ciências que podem ser úteis no dia a dia do ser humano. O idioma português é concentrado na pura gramática. Livros não são mais objetos de leitura. Não há capacitação para a leitura e a escrita. Não se aprende nem a redigir simples textos, quanto mais os de “complexidade maior”, como artigos, crônicas, resenhas.

O Enem, um vestibular de acesso ao ensino superior, revela o lixo de centenas de redações pífias, sem “pé nem cabeça”, com erros crassos. A maioria, alunos de escolas públicas, onde não deve ter recebido uma educação de qualidade e, muito menos, voltada à vida, nos detalhes mais simples, como ler, escrever e entender o que foi lido e escrito numa linguagem escorreita, objetiva, concisa, sem erros simples no exercício do uso da língua portuguesa.

Educar para a vida, desde os primeiros anos escolares, era o objetivo do notável educador suíço, Johann Heinrich Pestalozzi. “A arte da educação deve ser cultivada em todos os aspectos, para se tornar uma ciência construída a partir do conhecimento profundo da natureza humana”. Esse conhecimento profundo da natureza é, na prática, a EDUCAÇÃO PARA A VIDA.