A aprendizagem híbrida e o futuro da educação superior
Algumas perguntas sobre a aprendizagem híbrida permeiam os encontros institucionais ou pessoais dos gestores das instituições de educação superior (IES) da livre iniciativa: “Que papel terão as modalidades híbridas no futuro do ensino superior? Iremos evoluir e crescer com o resto do mundo, ou ficaremos para trás?”. Cabe-nos, gestores das IES da livre iniciativa, refletir sobre essa questão.
O Conselho Nacional de Educação ou o Ministério da Educação, por qualquer dos seus órgãos executivos, deve “legislar” sobre essa modelo de aprendizagem? Ou se insere na autonomia didático-pedagógico das IES? Em países em que há maior autonomia para as IES, como por exemplo, os Estados Unidos da América (EUA), o hibridismo passou a iluminar o ensino e a aprendizagem. Criou novos espaços de aprendizagem, dinâmicos, transparentes, modulares que estão atraindo mais estudantes, em particular, a geração digital. É uma modalidade que se presta a ser o canal das metodologias ativas de aprendizagem.
Com base nas tendências, tecnologias e práticas descritas no Relatório Horizon de 2022: Edição de Ensino e Aprendizagem, o painel elaborou sua visão de futuro, ao lado do foco na ação prática que a comunidade de ensino e aprendizagem pode empregar, com vistas ao êxito dessas propostas de visão de futuro. Um futuro que pode ser realidade. A aprendizagem combinada, mista ou híbrida, provoca o redesenho dos espaços de aprendizado, do físico para o virtual.
Na postagem no portal da Educase – Hybrid Learning and Space Reimagination: optimizing access and equity to promote student success (Aprendizagem Híbrida e Reimaginação do Espaço: otimizando o acesso e a equidade para promover o sucesso do aluno), Jodie Penrod – diretora sênior de Tecnologia na Heritage College of Osteopathic Medicine da Ohio University – nos fala sobre as escolhas, as demandas e o desejo dos estudantes pela sua aprendizagem. Ao longo do texto, ela faz outras reflexões. Para ela, o perfil, as atitudes e o comportamento dos estudantes que chegam ao ensino superior requerem um processo de reimaginação das IES.
A Educase apresenta-nos uma visão de futuro, em uma escala de tempo de dez anos, onde o aprendizado híbrido é o foco, como uma solução para o desenvolvimento de espaços de aprendizagem voltados para a geração digital. Ela reuniu dez especialistas em ensino e aprendizagem na educação superior. Essa equipe desenvolveu abordagens em torno da implementação da aprendizagem híbrida, nos próximos dez anos, tendo por base as tendências, tecnologias e práticas descritas no Relatório Horizon de 2022 e as que surgirem nesse período.
Para tanto, o time da Educase conjectura a possível evolução da educação superior para os próximos dez anos. Nesse cenário, os especialistas em educação superior apresentam um elenco de ações para que a comunidade de ensino e aprendizagem chegue, com êxito, a esse futuro referencial em dez anos.
Nas ações institucionais e interinstitucionais, destaco cinco de cada que, na minha experiência como gestor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e de organizações, se adaptam melhor às nossas IES que representam a livre iniciativa na educação superior, como, por exemplo, a CONFENEN (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino), o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo) e ANACEU (Associação Nacional dos Centros Universitários). Essas ações podem ser objeto de estudos, pesquisas e experimentos, levando-se em consideração o perfil organizacional, o local, a região em que se insere da IES e a qual sistema educacional está subordinada.
Ações institucionais.
1. Usar metodologias e estruturas baseadas em pesquisa. A pesquisa educacional fornece conhecimento fundamental para a arquitetura e avaliação da modalidade híbrida. Otimizar práticas baseadas em pesquisa para a IES e para as necessidades específicas dos stakeholders.
2. Incluir aprendizado experimental em todos os programas acadêmicos. Expandir o conceito de aprendizagem híbrida e o que conta como um espaço de aprendizagem. Oferecer oportunidades para todos os educandos se envolverem em experiências como estágios, voluntariado, programas de trabalho.
3. Aproveitar a pesquisa institucional para saber o que seus educandos acreditam o que os capacitará melhor ao futuro. Essa visão ajudará as IES a atenderem os alunos de forma holística e desenvolver recursos que ajudarem os educandos a se tornarem plenamente capacitados para o exercício de competências e habilidades e a usarem a aprendizagem permanente – aprender a aprender.
Ações interinstitucionais.
1. Estabelecer as melhores práticas para espaços de aprendizado sustentáveis com tecnologia aperfeiçoada. A construção e a manutenção contínua de espaços de aprendizagem aprimorados por tecnologias e inovações são aspectos desafiadores da aprendizagem híbrida.
2. Desenvolver e compartilhar as melhores práticas para ensino e aprendizagem equitativos. A ascensão da tecnologia suportada em ambientes de aprendizagem aumentou a necessidade de se concentrar na equidade e acessibilidade.
3. Propor mudanças nos modelos de financiamento do governo federal, a fim de modificar os financiamentos para apoiar o que é melhor para estudantes, o centro do processo de aprendizagem.
Resta um pergunta que não quer calar: a burocracia estatal tem consciência de que o ensino e a aprendizagem híbridas são uma imposição destes novos tempos, com tecnologias avançadas sendo desenvolvidas vertiginosamente, como a Inteligência Artificial (IA) e outras ainda em fase de testes para a educação, como, por exemplo, o metaverso?
As IES, mesmo as não universitárias, são tradicionalmente reconhecidas com autonomia didático-pedagógica, em condições, portanto de implementarem o modelo híbrido na aplicação de metodologias ativas de aprendizagem. O ensino e a aprendizagem híbridos estão inseridos nessa autonomia.
Creio que a iniciativa nesse sentido cabe a nós, dirigentes de instituições universitárias, faculdades e congêneres. Essas ações devem, assim, ser definidas nas estratégias do Projeto Pedagógico Institucional (PPI), nas ações e metas do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e nos Projetos Pedagógicos de Cursos (PPCs).