Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 572, 13 de março de 2023

O tempo passa..

Uma reflexão sobre a velocidade da vida, nos tempos voláteis que vivemos, é de inegável relevância. Especialmente, no ambiente acadêmico, como o deste Centro Universitário, onde o ser humano é o único elemento na produção e na entrega. Na metáfora do blog anterior – “O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você.”(Guimarães Rosa) – o educando é o jardim, a borboleta o conhecimento. Trabalhar o “jardim” para que ele cresça, aprenda, reflita, aprenda e aprenda sempre, por toda a vida, em contínua mutação, é o nosso desafio, dos estudantes, dos educadores do planeta. A “borboleta” acontecerá, na medida em que a aprendizagem seja eficiente, eficaz, transformadora. Mas fiquemos no Brasil.

A educação brasileira apresenta um cenário desfavorável para um país rico como o nosso. Recursos financeiros a União, as unidades federadas e os municípios de maior porte têm de sobra. Resta alocá-los a partir de avaliações em todos os níveis educacionais, mas avaliações in loco. As avaliações do tipo que temos – Educação básica, Enem, Enade, CPC, IGC, IDD e similares – não refletem a verdadeira conjuntura da educação brasileira. Em particular, a oferta pelos poderes públicos, da educação infantil às universidades.

Os recursos públicos deveriam ser distribuídos mediante avaliações in loco periódicas, como prevê o Sinaes, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. O mesmo deveria acontecer nas escolas da educação básica. Desde que implementadas regular e continuamente.

Ao lado dessas medidas, que deveriam ser centralizadas, coordenadas pelo Ministério da Educação, o desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação, com a tecnologia 5G, precisa ser efetivamente assumido pelos poderes públicos. Para o processo educacional, em qualquer nível ou instância administrativa, esses instrumentos são peças fundamentais para a aprendizagem nestes tempos em que a velocidade das mudanças é vertiginosa.  Em particular, para a implementação de inovações, a partir da criatividade de nossos educadores e gestores educacionais. A criatividade requer espaços apropriados. As propostas de inovação virão naturalmente. Cabe aos gestores educacionais ou a equipes especiais decidirem sobre essas questões, tendo sempre em vista a aprendizagem exitosa dos “jardins”.

Inovação não é fazer produtos complexos. É resolver um problema com criatividade e simplicidade. Pensar em soluções diferentes. Para ser um forte diferencial competitivo, há que ser original, ímpar. Ter um olhar diferente. Não se trata, absolutamente, de cópia de inovações implementadas, e que deram certo, ao vizinho ou concorrente. Isso é plágio.

Nesta oportunidade, lembro-me do sábio Maquiavel (Nicolau Maquiavel (1469/1527), satanizado com o termo negativo, “maquiavélico”.

No livro II Príncipe (MACHIAVELLI, Niccolô. Tradução de Harvey Mansfield como The Príncipe. Chicago: University off Chicago Press, 1985), Maquiavel traz à nossa reflexão as questões referentes à inovação. Transcrevo na íntegra um dos parágrafos mais significativos: “Há que nos lembrarmos sempre que não há nada mais difícil do que se ter em mãos algo novo, nem nada mais perigoso do que conduzir por caminhos inéditos, ou incertos quanto ao sucesso, ao se tomar a dianteira na introdução de uma nova ordem nas coisas. A razão de tal dificuldade é que o inovador tem por certo como inimigos todos aqueles que estão se dando bem nas condições antigas e apenas como mornos defensores aqueles que podem vir a se dar bem nas novas condições. A frieza destes decorre do receio dos oponentes ferrenhos, os quais têm as leis ao seu lado, e decorre também da incredulidade dos homens, os quais não acreditam de imediato nas novas coisas até que eles as tenham experimentado por um longo tempo.”. (gn)

Inovar é quebrar paradigmas, modelos burocráticos, alterar estratégias, promover transformações na cultura organizacional, geralmente aferrada ao passado que deu certo. Ou o medo de errar.

Liderar mudanças, inovar, não significa privilégios. É responsabilidade. Ser um modelo ético e moral, como recomenda o guru da Administração, Peter Drucker. Se tornar saliente, visível em organizações tradicionais é um risco a considerar. Liderar inovações é uma diferença essencial do gerir confortavelmente o que vem dando certo, como uma máquina. É uma ruptura. Mas somente se tornará exitosa se o líder conseguir a adesão dos dirigentes, no caso das IES, dos mantenedores e dos dirigentes das mantidas. O líder há que ser objetivo, claro, pertinaz, não se desencantar com o primeiro não, obstáculos que, à primeira vista, parecem intransponíveis. Mas não são.“Os tempos passam, os tempos voam, mas a poupança Bamerindus continua numa boa”. Não continuou. Bamerindus? O que esse nome representa para as novas gerações? Nada. Não atender aos gritantes apelos das mudanças, especialmente nas IES que estão perdendo alunos, recebendo avaliações negativas de seus consumidores de serviços educacionais, sem prestígio na comunidade interna e externa, é “voar” para o fundo do poço. Quando? Não sou profeta e nem futurólogo. Sei, contudo, que o #timebelasartes trabalha continuadamente para agregar valores ao nosso melhor produto, “os jardins”.