Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 631 de 08 de julho de 2024.

Educação básica X qualidade & resultados do Pisa

Pisa é a sigla do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, sigla em inglês do Programme for International Student Assessment. Trata-se de estudo comparativo internacional realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Programa oferece informações sobre o desempenho dos estudantes na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da educação básica obrigatória na maioria dos países, como é o caso do Brasil. Apura a aprendizagem vinculando dados sobre um conjunto de conhecimentos, experiências e informações prévias que o estudante possui, vinculados aos principais fatores que moldam sua aprendizagem, dentro e fora da escola.

Os trabalhos para a aplicação dessa edição tiveram início em 1998. A primeira edição data de 2000, com a adesão do Brasil.

A edição de 2000 envolveu mais de 200 mil estudantes, oriundos de 32 países, com foco em leitura, mas os estudantes ainda resolveram questões de ciências e matemática. O Brasil participou com 4.893 jovens com idades entre 15 e 16 anos.

Os primeiros resultados do Pisa 2000 foram divulgados em 2001. A média geral dos estudantes brasileiros foi 396 em leitura, 334 em matemática e 375 em ciências. A média dos países participantes foi de 500 em cada uma das três áreas.

Três anos depois foi aplicada a segunda versão do Pisa, com foco em matemática. O Brasil participou com menos estudantes — 4.452. Em 2003, segundo os resultados publicizados em 2004, os nossos estudantes repetiram o mesmo placar de 2000 em leitura e matemática, com uma leve melhora em ciências.

Em 2018, o Pisa é aplicado para 600 mil estudantes em todo o mundo, sendo 10.691 brasileiros, com média de 418 pontos nas três áreas avaliadas. A média apurada pela OCDE foi de 493 pontos.

Entre 2018 e 2022, a prova aplicada em 81 países foi para avaliar o desempenho de alunos em matemática, leitura e ciências. Pelos dados divulgados dos estudantes brasileiros, estes ficaram entre os quinze piores de 64 países.  Com 23 pontos, dez abaixo da média da OCDE, o Brasil está no mesmo patamar de Peru, Panamá e El Salvador.

Mas o pior foi que, um em cada dez estudantes brasileiros foi capaz de pensar em ideias originais ou abstratas para resolver problemas do dia a dia, como apurou Gisele Alves, gerente executiva do Edulab21, do Instituto Ayrton Senna. A criatividade está associada ao desempenho nas demais competências. De acordo com o relatório do exame, 30% da capacidade criativa tem relação com o rendimento acadêmico em matemática, disciplina em que 73% dos estudantes brasileiros estão no nível 2 em uma escala de 1 a 6. Um dos motivos é o uso exagerado de telas em aula (smartphones, tablets).

Esses índices preocupantes demonstram que a educação básica pública no Brasil está muito abaixo dos índices de países minimamente desenvolvidos: o país continua na parte inferior da tabela, com notas muito abaixo das médias registradas pelos países que integram a OCDE e participam do Pisa.

O G1, do Grupo Globo, registra que “o resultado do Pisa é mais um indicativo de que algo vai mal no sistema educacional brasileiro e deveria aprofundar a reflexão sobre a qualidade do ensino básico. […]. Ainda assim, cada nova avaliação tem demonstrado que nada disso tem sido suficiente para melhorar o nível dos alunos”.

O Plano Nacional de Educação (PNE-2014/2024) não conseguiu minimizar esse fraco desempenho. Não cumpriu as mais importantes metas para o período que se encerrou neste mês. Em dez anos, a educação brasileira básica, em leitura, matemática, ciências, não avançou praticamente em nada.

O mesmo G1 registra que, “depois de longo atraso, o governo apresentou as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) para os próximos dez anos, sem ter cumprido integralmente nenhuma das 20 metas da versão anterior, de 2014. O novo ensino médio, aprovado em 2017, ainda nem começou a ser implementado. A depender da agilidade do Congresso, as mudanças só começarão a entrar em vigor no ano que vem” (2025).

Acompanho a realização do Pisa e seus resultados desde sua implantação, em 2000. Fico desolado com o ensino ofertado pelas redes públicas, entregues aos entes federados e aos milhares de municípios. A maioria absoluta dos estudantes participantes do Pisa tem sua origem na área pública. Não existe uma coordenação nacional da educação básica, que funcione efetivamente, como já afirmei neste espaço por inúmeras vezes. Esse fato explica parte sofrível do desempenho de estudantes brasileiros.

Estamos às vésperas de uma eleição municipal. As pessoas nascem e residem nos municípios. Vereadores e prefeitos serão eleitos em outubro vindouro. Os eleitores devem colocar como prioridade das prioridades a educação básica pública. Exigindo dos eleitos — vereadores e prefeitos — que a educação ofertada pelos municípios seja de qualidade, dotando as escolas de instalações adequadas, salários e condições de trabalho dignas para os professores e demais profissionais de educação. Sem a efetiva mudança para melhorar a qualidade da educação básica, incluindo os cursos técnicos, o Brasil continuará a não ter quadros minimamente habilitados às tarefas básicas da economia, para o seu desempenho pessoal e profissional e para contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento regional e nacional.