Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 571, 06 de março de 2023

Cuidando dos jardins…

Kai-Fu Lee, nascido em 1961, em Taiwan, é um cientista da área da computação, empresário e escritor. Atualmente vive em Pequim, China. Um de seus livros, em parceria com Chen Quiufan, tem um capítulo dedicado à Inteligência Artificial – IA na educação. Ele é um pesquisador que há décadas se dedica ao estudo e à aplicação da IA em todas as áreas da educação e outros setores da economia. As suas explorações podem ser, tranquilamente, objeto de estudos dos profissionais da educação que buscam inovar com criatividade (LEE, Kai-Fu e QUIUFAN, Chen. 2041 – Como a Inteligência Artificial vai mudar sua vida nas próximas décadas. Rio de Janeiro: GloboLivros, 2022).

Ele afirma que as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs) estão sendo transformadas radicalmente há décadas e aplicadas com mais recursos na indústria e no comércio. Menos na educação. Apesar do ensino remoto de uso durante a recente pandemia, a experiência não foi impactante para muitas instituições de educação. Nessa área, a repercussão do ingresso da IA na educação, em particular na educação superior, ainda é lento. Em algumas dessas instituições talvez não seja objeto de estudos. Medo futuro?

Erich Fromm, há mais de cinquenta anos, afirmava que “[…] não é que seja certo que podemos realizar essas mudanças, nem mesmo de que seja provável, mas de saber se é possível realizar”. Aristóteles, nos anos 300 anos a.C., ministrava que qualquer mudança é “parte da probabilidade que o improvável aconteça”. Os que trabalhamos diuturnamente pensando numa educação superior de qualidade, estamos debruçados na aplicação da IA nos processos didáticos-pedagógicos de ensino e aprendizagem. O processo e a entrega final são complexos em uma sociedade onde há insegurança jurídica, como o Brasil. E insegurança na aplicação da IA. Há que realizarmos planejamento estratégico e promovermos testes, simulações, antes da efetiva implementação nos processos educacionais.

Fora da sala de aula, às vezes, não há outros espaços de aprendizagem. Mas os recursos das TDICs podem suprir, em parte, essa lacuna. A parte presencial nesse processo, contudo, creio ser indispensável se queremos educar e não somente ensinar.

Johann Heinrich Pestalozzi – o educador que incorporou o afeto à sala de aula -, de Yverdon Le Bain (Cantão de Yverdon, Suíça), ensinava, no século 18, que o ser humano se desenvolve de dentro para fora, respeitando-se os estágios de desenvolvimento por que passam os educandos em sua jornada de aprendizagem. Essa metodologia de aprendizagem influenciou a educação suíça e alemã, por onde publicou mais de quarenta livros. Para ele, “A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim de ação. É atividade.”

Ora, se o nosso objetivo fundamental é, mediante estratégias e ações para desenvolver ao máximo o potencial do educando, paralelamente ao do educador, para a entrega final de um ser educado integralmente, com habilidades desejadas pela sociedade em constantes mudanças, a IA não pode ser ignorada nesse intrincado processo. Contudo, as pesquisas e estudos devem levar em consideração os aspectos humanos durante esse processo. Não se trata de desumanizar a educação ao ser desenvolvida tendo a IA como instrumento. É parte do processo. O educador é personagem essencial. Ele deve estar presente desde a elaboração do programa educacional baseado na IA à sua aplicação final na escolha e formação das unidades curriculares. Estas devem ser dedicadas ao desenvolvimento de competências e habilidades com foco no futuro, em particular, nas mutações dos perfis das profissões e na empregabilidade. Esta não pode ignorar o contexto e estratégias, pelo menos, a médio prazo.

Nesse contexto, é sempre bom lembrarmos da educação continuada, para a vida toda. Uma recomendação da Unesco para a educação no século 21. Há quinze anos. O processo educacional é contínuo exatamente pelos motivos expostos.

É, também, um processo permanente nas formulações, atualizações, às vezes correção de rumos, do #timebelasartes. Porque somos adeptos de uma revolução educacional com esperança de alcançarmos, a cada dia, a cada momento, a qualidade por todos desejada na formação de nossos jovens e adultos que optaram pela Belas Artes. ESTAMOS quase centenários, mas SOMOS uma instituição universitária da ERA DIGITAL. Realmente, uma NOVA ERA para os que aqui trabalhamos, pesquisamos, estudamos, aprendemos. Seres humanos humanizados, que buscam a felicidade no que são e no que fazem. Pessoas felizes sempre produzem felicidades por ondem caminham, como o nosso Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

“O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você.(Guimarães Rosa)”.