Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 570, 27 de fevereiro de 2023

Incertezas em mundo em mudanças radicais

A pandemia que, a partir do final de 2019, levou mortes e depressão a bilhões de seres humanos trouxe mais incertezas num mundo cheio de desigualdades socioeconômicas e em constantes conflitos entre nações do mundo árabe e de parte da Europa. O exemplo mais recente é a guerra iniciada pela gigante Rússia contra a sua vizinha Ucrânia. Esse fato gerou crise de relacionamento com as demais nações europeias filiadas à Otan e na distribuição de petróleo e gás.

Esses acontecimentos criaram raízes profundas em nações, desde as mais ricas às mais frágeis. A educação não poderia ficar imune, como fonte formadora de pessoas à aquisição de competências e habilidades para um mundo em constantes mutações.

No Brasil, a educação superior enfrenta, há décadas, uma insegurança crônica, agravada com a pandemia. Centenas de atos administrativos  decretos, resoluções, portarias, instruções normativas e até despachos , no âmbito do Ministério da Educação, alteram procedimentos para a avaliação, a regulação e a supervisão desse nível educacional. Acrescente-se a isso, a exigência de atos meramente burocráticos intermináveis, durante os processos citados. Há “legislações”, meros atos administrativos, que alcançaram os processos anteriores. Isso sem falar de programas, como e-MEC, que substituiu o sistema anterior, sem a absorção dos processos protocolados nestes. E o e-MEC continua necessitando de um e-MEC.2, que está prometido há anos e não avança além de promessas. Essas incertezas, agravadas pela globalização da economia e da pandemia, evoluem e trazem aos gestores de instituições de educação superior (IES) a necessidade de estabelecerem estratégias para superarem esses obstáculos a uma educação de qualidade.

Mauro F. Guillén, decano da Cambridge Judge Business School, professor de Estudos de Gestão Fellow do Queens’ College, mestre e doutor pela Universidade de Yale, desenvolve pesquisas em teoria organizacional, sociologia econômica, sociologia comparada, gestão internacional, competitividade e economias emergentes e plataformas digitais. Em 2020, em plena pandemia, publicou o livro 2030: como as maiores tendências de hoje vão colidir e mudar o futuro de tudo (Nova Iorque: St Martin’s Press/Macmillan). Uma edição foi lançada em nosso idioma: 2030  Como as maiores tendências de hoje vão colidir com a feitura de todas as coisas e remodelá-las (São Paulo:  Alt Cult, 2021).

Segundo Guillén, em 2030, teremos nova realidade, tais como: mais avós do que netos; a classe média dos EUA e da Europa combinados será superada pela classe média da África e Ásia subsaariana; a economia global será impulsionada pelo consumidor não ocidental; haverá mais riqueza global nas mãos das mulheres do que dos homens, mais robôs do que trabalhadores humanos, mais computadores do que cérebros humanos e mais moedas do que países. Como se antecipar a esses eventos, a mudanças inimagináveis há uns dez anos? Guillén apresenta algumas dicas, não receitas.

A busca de felicidade é a nossa meta como seres humanos. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. E Deus é amor e deseja que os seus filhos sejam felizes. Se compreendermos isso, fica mais fácil nos adaptarmos às transformações anunciadas e que poderão, a partir de 2030, mudar radicalmente o cenário desta década. Mas vão acontecer. Pessoas felizes constroem instituições felizes, vitoriosas, perenes.

Entre as dicas de Guillén, creio que posso destacar algumas que podem ser implementadas e consolidadas em nossas instituições. Possivelmente, há IES que já iniciaram, outras que implementaram e outras que estão avaliando os reflexos de suas decisões.

A diversificação com propósito, combinar elementos diferentes que permitam a IES estar alinhada aos seus valores, missão, objetivos no desenvolvimento de competências e habilidades.

Abordar com otimismo, positivamente a incerteza e as possibilidades que irão surgir para as IES antenadas com as mudanças apontadas por Guillén e outros autores, que fazem pesquisas contínuas sobre as transformações por que estão passando todas as organizações deste planeta. Estamos há algum tempo em encruzilhadas e o poeta espanhol Antonio Machado indica o rumo, em um de seus mais notáveis poemas: Caminante no hay camino, se hace camino al andar…  A importância de viver no momento presente, mas construir o seu futuro em vias “nunca dantes navegadas”, originais, sem cópias, perfeitamente inseridas no perfil e valores institucionais. As crises e mudanças deverão ser mais radicais, como radicais devemos ser, nós e as instituições que fundamos e dirigimos. É uma reflexão essencial, à qual o #timebelasartes trabalha metodicamente, a cada dia em melhores condições, com apoio nas tecnologias digitais de informação e comunicação, sem excessos, com os “pés no chão”, com vistas a uma metamorfose. Perto do nosso centenário, temos a consciência para a nossa perenidade e a metamorfose, como nos versos do poeta Raul Seixas:

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.