Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 653, 09 de dezembro de 2024.

“Educação – Um tesouro a descobrir”

O título desta postagem é de um livro[1] que traz o Relatório Delors, assim denominado o “Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI”, concluído em 1996, sob a coordenação de Jacques Delors (Jacques Lucien Jean Delors), ex-presidente da Comissão Europeia.

Por diversas vezes, usei parte das propostas aprovadas pela Unesco, em congresso realizado em Paris, no ano de1998, que vem carregado de orientações e possibilidades para a Educação. O foco foi sempre os quatro pilares da educação para o século 21: Aprender a aprender. Aprender a fazer. Aprender a conviver. Aprender a ser. São orientações que servem também a um objetivo de vida, tão necessário nestes tempos sombrios por que passa a humanidade. Guerras, conflitos, fenômenos climáticos estão no dia a dia de nossas vidas, onde quer que estejamos.

Dos quatro pilares, creio que os mais complexos para serem desenvolvidos na educação seja Aprender a conviver, viver juntos, aprender a viver com os outros e Aprender a ser assim definido no Relatório Delors:

  • Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros. A Educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta.
  • Aprender a ser. É importante desenvolver sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e crescimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem precisa ser integral, não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo.

Aprender a viver juntos, no mundo educacional e profissional, está ligado ao trabalho em grupo, às equipes multidisciplinares, com ênfase na educação dos cursos superiores voltados à saúde (Medicina, Psicologia etc.). Esse “aprender” não significa amizade irrestrita, ampla. As pessoas, na escola, no lar, no meio profissional ou de lazer não precisam necessariamente ser íntimos, mas ouvir e aceitar ou não as opiniões alheias, por meio de diálogos; não de discussões e debates, que implicam em dificuldade de saber ouvir e, com equilíbrio emocional, contestar sem ofensas, mas no reino das palavras esclarecedoras e gentis.

Aprender a ser diz respeito ao amor por si mesmo, a conhecer a verdade sobre si e a desenvolver a autoestima, aprender com os erros alheios e com os próprios para o desenvolvimento harmônico de potencialidades inatas, que necessitam desabrochar em meios de convivência pacífica ou mais complexas, como guerras, terrorismo, conflitos pessoais, familiares, educacionais e profissionais ou corporativos.

Immanuel Kant, considerado o principal filósofo da era moderna, em Doutrina da virtude (Tugendlehre), da Metafísica dos costumes [Die Metaphysik der Sitten (1797)], afirma que “um ser humano tem o dever de erguer-se da tosca condição de sua natureza, de sua animalidade (quoad actum) cada vez mais rumo à humanidade, pelo que somente ele é capaz de estabelecer ele mesmo fins; tem o dever de reduzir sua ignorância através da instrução e corrigir seus erros. E não é meramente que a razão tecnicamente prática o aconselha a fazê-lo como um meio para seus outros propósitos; moralmente a razão prática o comanda absolutamente e faz desse fim o dever dele, de modo que possa ser digno da humanidade que dentro dele reside”.

“Erguer-se da tosca condição de sua natureza”, para “rumo à humanidade”, inclui, sem dúvida, esses dois pilares. Interessante. Quando procuramos saber, nas redes digitais, sobre aprender a conviver e a ser, as referências, exceto nos comentários do Relatório Delors, são sempre conexas a religiões, como se os religiosos fossem o único alvo e objetivo de temas relativos ao convívio fraterno e ao desenvolvimento do ser integral. A Educação, o bem essencial do ser humano, é relegada a plano secundário. Como em todas as pesquisas sobre os anseios dos cidadãos e políticos brasileiros. A Educação como prioridade número um que, com tenacidade, levantamos nesse espaço digital aparece raramente no cenário das redes digitais.

Os dois pilares da educação para o século 21, que abordamos nesta postagem, são inerentes à Educação como processo contínuo de desenvolvimento integral do ser humano. Esses pilares não são exclusivos aos educandos, mas se estendem aos educadores, às famílias, aos gestores acadêmicos e de outras organizações civis ou públicas, a todos, enfim. Que tenhamos a sabedoria para aceitar e desenvolver esses pilares em nós e nos processos educacionais, profissionais e corporativos. Hoje e sempre.

“É admirável quanto pânico um homem honesto pode espalhar em meio a uma multidão de hipócritas”.

Thomas Sowell

 “O POVO PRECISA DE DUAS COISAS: LIBERDADE E EDUCAÇÃO.

LIBERDADE PARA PODER VOTAR. EDUCAÇÃO PARA SABER VOTAR”.


[1] Educação: um tesouro a descobrir – 10 ed. – São Paulo: Cortez; Brasília: MEC, Unesco, 2006.