Blog do Prof. Dr. Paulo Cardim nº 646 de 21 de outubro de 2024

IA na sala de aula

Em recente artigo de Ocimara Belmont, jornalista especializada em educação e saúde, diretora da Balmant Conteúdo, uma agência que tem por objetivo atuar no desenvolvimento de conteúdos assertivos, com expertise voltada ao planejamento estratégico de conteúdo, em seu artigo (Estadão, 14/10/2024), afirma algo que não é novidade na educação superior da livre iniciativa ou pública.

Belmont diz que um equívoco pensar que o uso de inteligência artificial (IA) na sala de aula se limita ao ChatGPT. As aplicações da IA abrangem todos os níveis da educação, desde aumentar a eficiência dos professores até melhorar a compreensão dos alunos e promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.”

O Semesp, em pesquisa realizada com 444 professores da educação básica, em março de 2024, mostra que 74,8% dos docentes adotam a tecnologia e a IA como aliadas às suas atividades docentes, mas essas novas tecnologias digitais não são usadas em sala de aula. Na educação superior não é tão radical assim. Belmont é da USP. Talvez esse tipo de problema seja específico das universidades públicas.

Todavia, afirma Ocimara, “enquanto a tecnologia acelera o acesso à informação, os professores também percebem que ela traz diversos desafios como a dispersão dos alunos”. 39,2% dos professores afirmam usar essas ferramentas com regularidade em sala de aula. Esse baixo porcentual revela uma distância entre o potencial da tecnologia e sua implementação cotidiana.

A produtividade acadêmica, no Brasil, ainda é muito frágil. Ela não aparece em nenhum instrumento de avaliação do Inep e muito menos nos marginais CPC e IGC.

A IA pode ser usada, pelo próprio professor, para medir, semestralmente, a produtividade da disciplina e pelo coordenador mensurar a aprendizagem de cada curso. Pode-se, ainda, estabelecer um mínimo aceitável de aproveitamento. 80%, por exemplo.

Para Carlota Boto, diretora da Faculdade de Educação da USP, essa lacuna se deve à complexidade do uso da IA, que vai além de ser uma simples ferramenta técnica. Para ela, a IA tem o poder de redefinir o modo como o conhecimento é acessado e compartilhado. “A inteligência artificial pode ser uma aliada valiosa no preparo das atividades em sala de aula, mas, para que isso ocorra de forma eficaz, é preciso que o professor tenha domínio tanto da ferramenta quanto do conteúdo a ser trabalhado.”

Anderson Soares, coordenador do primeiro bacharelado em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG), observa que “a geração de conteúdo sempre foi algo muito artesanal”. Mas, para Soares, essa nova realidade oferece oportunidades que promovem ações cooperativas e colaborativas, essenciais para o desenvolvimento das competências do futuro. No entanto, o avanço tecnológico também traz um desafio significativo: como trabalhar as habilidades socioemocionais em um ambiente altamente tecnológico?

Para Guilherme Cintra, diretor de inovação e tecnologia da Fundação Lemann,” a nossa capacidade de criar e manter relações verdadeiras será o que nos distinguirá das máquinas”. Ou seja, o professor precisa ser mais do que um transmissor de conhecimento, atuando como facilitador de interações humanas e reflexões profundas.

O docente destes novos tempos, em que as TDICs aceleradamente criam aplicativos, programas e plataformas, não pode ser mais adepto de metodologias tradicionais de ensino. Há que usar metodologias ativas de aprendizagem, tendo o aluno com um ser ativo, partícipe da própria aprendizagem. Ser mais do que um transmissor de conhecimento, como facilitador de interações humanas e reflexões profundas. Para essa postura há que ter gestores acadêmicos facilitadores ou parceiros da aplicação racional da IA em sala de aula

Para o especialista Anderson Soares, embora a tecnologia possa otimizar o aprendizado e personalizar o ensino, o desenvolvimento de habilidades humanas fundamentais como empatia, trabalho em equipe e criatividade ainda depende do educador criar conexões autênticas.

O #timeBelasArtes trabalha de forma permanente e colaborativa para apoio a docentes e discentes que tenham condições para enfrentar e superar os obstáculos neste novo cenário da educação brasileira.