EJA & educação superior
“Qual será o futuro do setor do ensino superior?”, pergunta o colunista Alexandre Gracioso em artigo publicado na mais recente edição da Revista Ensino Superior. Ele é especialista, professor e consultor em ensino superior e gestão educacional.
De início ele afirma que a compreensão do mercado de educação de adultos será ultrapassada por tecnologias digitais de informação e comunicação, com relevância para o robotização e a Inteligência Artificial (IA). Ele, contudo, está abordando o mercado de adultos para o ensino superior. Mas há outro aspecto nessa área, a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A EJA é uma modalidade de ensino destinada a pessoas que não tiveram acesso ou não concluíram a educação básica na idade apropriada. Esta modalidade é essencial para garantir o direito à educação para todos, independentemente da idade.
No mais recente censo escolar, o Inep registra “temos praticamente a universalização do acesso de 6 a 14 anos, acima de 99% de frequência na escola. Mas, curiosamente, a partir dos 15 anos começamos um declínio na frequência, chegando até 78% na população de até 17 anos. Isso acende o alerta de que algum problema acontece na trajetória dos estudantes, sobretudo porque nas faixas etárias imediatamente anteriores temos a universalização do acesso.”.
A evasão escolar na educação básica tem diversos motivos, sendo comum os estudantes enfrentarem dificuldades para conciliar estudos com trabalho, a distância da escola, a desintegração da família, as que vivem na miséria e na pobreza. Nas comunidades controladas pelo narcotráfico, temos o problema das drogas. Nós não somos El Salvador.
A andragogia reconhece que adultos aprendem de maneiras diferentes, pois já possuem experiências de vida e conhecimentos prévios. Exige, contudo, capacitação docente e seleção mais rigorosa dos ingressantes. Para esse mercado educacional específico não há como usar o mesmo tipo de acolhimento e a postura docente há que ser compatível.
As metodologias ativas de aprendizagem são estratégias que colocam o aluno no centro do processo educativo, incentivando a participação ativa e a aplicação prática do conhecimento. No contexto da andragogia, que é a arte e ciência de ajudar adultos a aprender, essas metodologias são especialmente eficazes, pois consideram as experiências prévias e a necessidade de relevância prática dos aprendizes adultos.
No âmbito da andragogia, segundo a autora, “essas metodologias são projetadas para tornar o aprendizado mais dinâmico e relevante, atendendo às necessidades específicas dos adultos que, geralmente, buscam aplicar imediatamente o que aprendem em suas vidas pessoais e profissionais”.
Há, contudo, um problema até agora insolúvel, que não sensibiliza as autoridades: a falta de acesso à banda larga da internet. O governo brasileiro, por motivos políticos, não comprou a Starling, de Elon Musk, fundador da SpaceX, que tem como meta oferecer internet rápida e abrangente via satélite ao mundo inteiro. O Starlink usa tecnologias que garantem redução de custos para os clientes e maior abrangência na prestação do serviço. Por motivos políticos o STF chegou a bloquear a Starlinq no Brasil e o Presidente da República não foi competente para resolver esse problema meramente político.
A evasão escolar e a redução de concluinte do ensino médio, incluindo o EJA, tem reflexos na educação superior.
No mais recente censo, o Inep registra que, após analisar todos os problemas na educação de adultos, em particular os estudantes do EJA, o antigo exame supletivo, para os que evadiram do ensino na idade adequada, exige “a necessidade de novos olhares para a educação de adultos, retomando a base epistemológica andragógica, a fim de possibilitar mais estudos relacionados à cognição, aprendizagem, e desenvolvimento de adultos e idosos, a fim de contribuir para os fundamentos de um futuro paradigma de educação de adultos”.
Outro ponto que chama a atenção, segundo o Inep, “é a composição etária dessa base de entrantes. Em 2000, ⅔ dos entrantes, todos no presencial, tinham até 24 anos. 22 anos depois, essa proporção se manteve e ⅔ dos entrantes do presencial tinham até 24 anos. No EAD o quadro é diferente, com proporção caindo para 31%. Ou seja, 70% dos entrantes no EAD são de adultos mais velhos e ⅓ de todos os entrantes têm mais de 35 anos. No total do sistema, mais da metade dos entrantes tem mais de 24 anos e um em cada quatro entrantes tem mais de 35 anos. Essa é uma mudança notável em relação à situação do início do novo milênio e que não está sendo devidamente considerada nem pelos players do ensino superior, nem pelo governo”.
Na iniciativa privada existem iniciativas de diversas IES, mas creio que os fenômenos observados no EJA e nos ingressantes no ensino superior, acima de trinta anos, necessita de estudos aprofundados do Fórum das entidades representativas da educação superior mantida pela livre iniciativa.