EAD—Problemas e soluções em análise
O Ministério da Educação (MEC) suspendeu a criação de novos cursos de graduação a distância e a criação de novas vagas e polos, até 10 de março de 2025.
A oferta de cursos superiores na modalidade a distância, no Brasil, tomou caminhos inusitados, em particular, com a inexistência de avaliação in loco dos polos ou da ausência deles, com o uso exclusivo de plataformas, cada vez mais inteligentes, com a adoção de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA).
Talvez por causa dessas inovações, o Censo Educação Superior revela que em 2012 essa modalidade representava 12% das matrículas. Em 2022, 46%, no total, sendo de 56% das matrículas de instituições mantidas pela livre iniciativa. Por ser um governo de esquerda, esse último dado deve ter trazido arrepios ideológicos em setores mais à esquerda. Daí o governo ter suspenso, até 2025, os processos de autorização de novos cursos de graduação.
Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, em entrevista ao Estadão, entidade que representa mantenedoras de ensino superior do estado de São Paulo, diz que a revisão é necessária, mas não se pode classificar negativamente a modalidade. “Estigmatizar o ensino a distância, já marcado por preconceitos, não pode ser o caminho. A discussão precisa ser pautada em qualidade e inclusão no ensino, considerando também que há escassez de políticas públicas.”
Independentemente da modalidade, Lúcia defende que é preciso discutir a democratização do acesso à educação superior com qualidade. “O ensino tem de atender os requisitos do conteúdo curricular e diretrizes de excelência”, avalia a presidente do Semesp, salientando a necessidade de definir quais são os cursos que podem ser oferecidos totalmente de forma online. “A carga horária presencial deveria ser de acordo com o curso. Tem cursos em que há uma necessidade maior ou menor.”
Fredric Litto, renomado especialista em educação a distância (EAD) e presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), enfatiza a importância de criar um ambiente de aprendizagem interativo e dinâmico, que vá além da simples transmissão de conteúdo. O ambiente de aprendizagem é a plataforma, com metodologias ativas, adaptadas a cada tipo de curso de graduação e pós-graduação.
O professor não é mais, de acordo com essa visão, a fonte do conhecimento e nem está acima do aluno, pelo contrário, está ao seu lado, ainda que distante, trabalhando na função de orientador e moderador de um debate que acontece entre quem aprende. Em alguns casos, lembra o professor Litto, ele nem é necessário (quando não se trata de um curso formal, por exemplo). O autor chama a atenção para as mudanças e transformações que estão ocorrendo e vão continuar a acontecer, considerando-as inevitáveis. “O professor que limita seu trabalho à entrega de fatos e conhecimentos aos alunos logo será substituído por computadores e sites da internet que fazem essa tarefa vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Mas o profissional que concentra seus esforços na criação de ambientes e tarefas que permitam aos alunos, por si mesmos, chegar a fatos e conhecimentos sob diferentes possibilidades de interpretação da informação obtida, nunca será substituído na aprendizagem presencial ou a distância”, pondera.
Creio que o “nó górdio” da EAD seja ter ou não ter polos; avaliar ou não avaliar os polos. Se não os ter não haverá educação a distância. A Belas Artes tem uma política: os polos são as unidades do Centro Universitário fora da sede, com todos os recursos usados pelos alunos presenciais à disposição dos professores para uma educação síncrona ou assíncrona na modalidade a distância. Esse processo tem obtido sucesso na aprendizagem.
Todavia, um processo educacional de massa, de âmbito nacional e internacional, traz ao debate novos aspectos a serem considerados. Creio que especialmente nesses casos os polos devem ser avaliados na autorização, pelo menos. Penso que o MEC deverá desenvolver pesquisa em países onde a EAD é desenvolvida regularmente, sem perda de qualidade em relação ao ensino presencial. Visitar esses países com a sua equipe técnica, avaliar os polos, de que forma acontece o ensino e, o mais importante, verificar o nível de aprendizagem acima, por exemplo, de 70 ou 80%. Desatar o nó górdio. Sem espadas…•