Educação superior & problemas globais
Estão em evidências, nos estudos de teóricos da educação superior, espalhados pelo mundo, com a seriedade que o assunto merece, a aplicação das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs) às metodologias ativas de aprendizagem e às metodologias tradicionais, ainda adotadas por inúmeras instituições de educação superior (IES). Estou falando de educação presencial, semipresencial ou híbrida e a distância (EAD).
No ensino presencial, adotado pela grande maioria das IES brasileiras, essas metodologias estão sendo adotadas progressivamente, com a velocidade de cada instituição, segundo a tradição institucional, o projeto político-pedagógico (PPI) e os planos de desenvolvimento (PDIs), consagrados no projeto pedagógico de curso (PPC). Esses mesmos documentos são usados para as metodologias tradicionais. No ensino público está presente a influência de Paulo Freire, fato que ocorre só Brasil. Lamentavelmente.
A sociedade e as organizações do Estado e da livre iniciativa estão esperando profissionais formados não somente nas teorias, técnicas e práticas profissionais exigidas pelas diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação (DCNs), mas que tenham habilidades antenadas com o mundo digital que, aos poucos, vai tomando o lugar do ser humano, em particular, com o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) e similares.
Para formar esses profissionais, há que ter professores capacitados para a era digital.
Segundo o professor André Gazola, “na incessante evolução da Era Digital, o professor, figura central no processo educativo, enfrenta desafios e oportunidades transformadoras. Tradicionalmente associado à transmissão de conhecimento e orientação, o papel do professor agora abarca um escopo mais amplo. Agora, o professor é muito mais um transmissor de informações ou conhecimentos, assumindo um papel multifacetado e ainda mais belo, embora mais desafiador. Nesse cenário, faz-se necessário dominar as habilidades-chave necessárias para educar os alunos do século 21”.
Para educar o discente do século 21, o docente há que ter as mínimas condições das habilidades requeridas pela sociedade e o perfil delineado pelas DCNs da graduação. O aperfeiçoamento e atualização pode vir dos cursos de pós-graduação lato sensu e de outras técnicas aperfeiçoadas na própria IES. O curso de Direito, por exemplo, não pode ignorar a era digital. Todos os processos tramitam nesse sistema. Milhares de bacharéis em Direito, formados fora da realidade digital, estão passando por dificuldades, inclusive com a simples perda de prazo em processos.
Os cursos de graduação em sistemas de informação, cujas DCNs foram aprovadas pela Resolução CNE/CES nº 5, de 16 de novembro de 2016, institui as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação na área da Computação, abrangendo os cursos de bacharelado em Ciência da Computação, em Sistemas de Informação, em Engenharia de Computação, em Engenharia de Software e de licenciatura em Computação, com fundamento no Parecer CNE/CES nº 136/2012, aprovado em 8 de março de 2012.
O art. 5º da referida resolução traz o perfil do profissional desejado pelas DCNs e a sociedade:
“Art. 5º Os cursos de bacharelado e licenciatura da área de Computação devem formar egressos que revelem pelo menos as competências e habilidades comuns para: I – identificar problemas que tenham solução algorítmica; II – conhecer os limites da computação; III – resolver problemas usando ambientes de programação; IV – tomar decisões e inovar, com base no conhecimento do funcionamento e das características técnicas de hardware e da infraestrutura de software dos sistemas de computação consciente dos aspectos éticos, legais e dos impactos ambientais decorrentes; V – compreender e explicar as dimensões quantitativas de um problema; VI – gerir a sua própria aprendizagem e desenvolvimento, incluindo a gestão de tempo e competências organizacionais; VII – preparar e apresentar seus trabalhos e problemas técnicos e suas soluções para audiências diversas, em formatos apropriados (oral e escrito); VIII – avaliar criticamente projetos de sistemas de computação; IX – adequar-se rapidamente às mudanças tecnológicas e aos novos ambientes de trabalho; X – ler textos técnicos na língua inglesa; XI – empreender e exercer liderança, coordenação e supervisão na sua área de atuação profissional; XII – ser capaz de realizar trabalho cooperativo e entender os benefícios que este pode produzir”.
Os demais profissionais, formados nas diversas áreas de conhecimento, entre o perfil desejado, não podem prescindir da aprendizagem de conhecer os limites da computação; gerir a sua própria aprendizagem e desenvolvimento, incluindo a gestão de tempo e competências organizacionais; adequar-se rapidamente às mudanças tecnológicas e aos novos ambientes de trabalho; ler textos técnicos na língua inglesa; empreender e exercer liderança, coordenação e supervisão na sua área de atuação profissional; ser capaz de realizar trabalho cooperativo e entender os benefícios que este pode produzir.
Essa é a meta. Para alcançá-la, cada IES deve estabelecer a progressão no cumprimento de cada meta segundo o capital humano disponível para o desenvolvimento de estratégias e ações e os recursos financeiros e acadêmicos, espaços físicos e equipamentos indispensáveis à construção de ambientes de aprendizagem adequados. Trata-se, assim, de um complexo conjunto de ações com visão de futuro, para uma educação de qualidade desejada pela sociedade do século 21.